A Universidade Federal do Ceará completa, neste ano, 70 anos de existência!
Diga-se de passagem, uma existência transformadora da realidade do Ceará. Não apenas pelo capital humano produzido e que escreveu a história recente de nosso Estado, em diversas áreas dos setores público e privado, mas, sobretudo, pelo conjunto de contribuições na área da pesquisa, desenvolvimento e extensão tecnológica que ajudou o nosso Estado do Ceará a entender melhor os seus potenciais e desafios, como também influenciou novas descobertas centrais ao desenvolvimento de diversos setores em nosso território.
Vale ressaltar, também, que foi a força do seu pioneirismo e de suas lideranças que influenciaram a construção do atual parque de educação superior, ciência e tecnologia do Ceará, bem mais amplo e descentralizado do que tínhamos décadas atrás. O significado mais vivo de uma universidade como um espaço de interação de múltiplos saberes, de relações entre pensamentos e experiências distintas, de inquietação intelectual e de efervescência política e cultural é encontrado na nossa Universidade Federal do Ceará. Ressalto essa óbvia e muito reconhecida importância histórica por assistir intrigado a alguns movimentos recentes que envolvem a instituição universitária “mãe” das demais.
De onde se espera, muito em especial, que seu exemplo seja farol e referência para as outras universidades. Recentemente, foi anunciado que a Universidade Federal do Ceará receberia o terreno e a construção abandonada do que deveria ser o Aquário da Praia de Iracema. Depois de 10 anos de obras paradas e mais de R$ 100 milhões já gastos, em virtude de uma série de problemas, dentre eles, muitos de natureza legal, o Governo do Estado decide “abrir mão” da obra, que se encontra inviável e com uma série de pendências.
O pior, é que ao invés de buscar uma solução para o seu próprio problema, o Governo do Estado passa o “pepino” para a Universidade Federal do Ceará construir o “novo” Labomar (Laboratório de Ciências do Mar). Bom dizer que o Labomar já funciona na nossa Beira Mar, na Avenida da Abolição, localizado na nossa orla. Com uma estrutura bem antiga, mas que pode ser muito mais facilmente reformada, modernizada e ampliada. Bom registrar que a nossa UFC sofre de um grave problema orçamentário para o custeio das suas atividades atuais e manutenção básica das suas estruturas prediais já existentes.
Como garantir que em tempos de “vacas magras”haverá recursos suficientes para uma obra de grande dimensão, inclusive adaptando um prédio abandonado que seria um aquário? Como garantir também recursos para o seu devido custeio? Se o Governo do Estado, com toda a expertise em execução de obras há muitas décadas, não conseguiu se desvencilhar de todos os entraves e deixou a obra parada por 10 anos, porque caberia à nossa UFC, que não tem a execução de obras como uma atividade finalística, o papel de resolver esse dificílimo imbróglio? Me parece que estão transferindo o problema e com ele as complexidades de adaptar uma obra já em deterioração que tinha um objetivo completamente diferente de ser um prédio acadêmico, além de todas as questões legais associadas a atual obra parada. Agora, mais recentemente, surge mais um novo fato envolvendo a nossa UFC. Numa área de propriedade privada que abrigava uma construção que foi demolida pela Prefeitura de Fortaleza, em virtude dos riscos de desabamento, a Secretaria de Patrimonio da União (SPU), um dia após a entrega do terreno com a demolição finalizada, determina o interesse da UFC pelo terreno.
O pior é que não tem nem mesmo um projeto conceitual para a área. Já surgiram várias “idéias” diferentes e até bem intencionadas, mas, claramente, a administração da UFC solicitou o terreno sem ter ainda a decisão do que fazer naquela área, não ter um projeto básico, não ter orçamento para a futura obra, nem mesmo garantias objetivas de manutenção. Numa área, registre-se, fundamental ao desenvolvimento do turismo e da economia criativa da cidade. Dentre outras perguntas, cabe ressaltar: Porque especificamente esse terreno na Praia de Iracema?
Sabiam que o Governo do Estado, há alguns anos, solicitou a desapropriação deste mesmo terreno para fazer um equipamento cultural e abandonou o projeto? É preciso que a nossa amada Universidade Federal do Ceará, no bom intuito de contribuir com o Estado, atente para os graves riscos administrativos, legais, orçamentários e mesmo políticos que está correndo! Pode virar, sem nem mesmo ter consciência, o repositório de obras e projetos abandonados pelo Governo do Estado, que foram transferidos sem garantias objetivas que se transformarão em realidade. Até porque herdará todos os problemas associados aos mesmos.
O mais provável é que os problemas permaneçam, mas, agora, com “novos responsáveis”. A nossa UFC não pode, num futuro breve, pagar pela culpa dos erros dos outros!!