A economia do Ceará anda de mal a pior. Faltam planejamento e visão de futuro. Faltam projetos e capacidade de execução! O nosso Ceará, que tem em torno de 4% da população nacional, só corresponde a pouco mais de 2% da nossa economia brasileira. Já de um tempo sabíamos que era preciso crescer, por algumas décadas, mais que a média da taxa de crescimento econômico do País para reverter essa realidade e garantir um nível de competitividade regional que permitisse a geração de mais e melhores empregos e de uma média salarial acima da média nacional.
Até conseguimos por um tempo garantir crescimentos anuais do PIB acima dos níveis médios de crescimento do País, mas já de algum tempo, o PIB do Ceará vem relativamente diminuindo e perdendo força, mesmo entre outros estados do Nordeste, sem economias de bases complexas e/ou tecnologicamente avançadas. Vivemos, hoje, um contraste de discurso político oficial sobre o desenvolvimento do Ceará: o da realidade versus ilusão.
A realidade é de uma indústria em queda de produtividade e competitividade. Segundo dados do IBGE, a indústria cearense teve, em 2023, a pior performance do País entre todos os estados comparados. Além disso, dados recém publicados pelo Ministério do Trabalho (base CAGED 2024) demonstram que o saldo de empregos na indústria cearense foi negativo já em Janeiro e Fevereiro de 2024 (respectivamente: -877 em Janeiro e -399 em Fevereiro). Todos os sinais são de decadência na relevância regional da indústria do Ceará. A Ilusão tem sido confirmada com a falta de progresso efetivo dos múltiplos protocolos de intenção assinados na área da produção de Hidrogênio Verde (H2V).
A aposta no cenário irreversível de transição energética global e nas encomendas antecipadas de H2V, em especial da Europa, tem gerado uma corrida entre estados brasileiros para anteciparem as condições para a produção local de H2V. Um caminho inegavelmente importante para o nosso futuro. Entretanto, há grandes problemas e entraves com essa agenda do H2V aqui no Ceará e no próprio País.
Por exemplo, falta domínio tecnológico local, além da falta de um marco regulatório que permita competitividade efetiva na produção, que são entraves de natureza operacional e financeira. Isso é comprovado com o fato de que vários protocolos de intenção assinados pelo Governo do Estado do Ceará, ao longo dos últimos anos, com diferentes multinacionais da área energética, não tem saído do papel.
O maior desses pré-contratos foi assinado com a multinacional australiana Fortscue. O representante da própria companhia australiana, em entrevista ao jornal Estado de São Paulo, na última semana, reconhece que os custos atuais de produção tornam inviável a operação do Ceará!
Em síntese, toda a aposta futura da indústria do Ceará, que vai mal no presente, tem sido por um único caminho, o da produção local de H2V, que atualmente lida com diversas e complexas variáveis fora do seu controle e que são impeditivas para a operacionalização das primeiras plantas produtivas!
Com isso, enquanto a nossa “velha indústria” perde competitividade e empregos ao longo dos últimos anos e assiste a fábricas fechando as portas no Estado do Ceará com grande recorrência, a potencialmente “nova indústria” de H2V não decola aqui no Ceará. Um duro contraste entre a realidade de perdas atuais e a ilusão de sonhos distantes na economia cearense!