O Hospital Geral de Fortaleza (HGF) tem longa tradição de muito serviço prestado aos cearenses, tanto pela excelência do seu corpo clínico e profissional como também pelos múltiplos centros de referência clínicos e cirúrgicos para o Sistema Único de Saúde, aqui do Estado do Ceará.
Dentre muitas as áreas de atuação de excelência e fundamentais ao funcionamento da rede estadual de saúde, destaco a Unidade de AVC, Neurocirurgia, Reumatologia, Nefrologia, Oftalmologia e o Serviço de Transplante de Órgãos, dentre muitos outros. Entretanto, apesar de ser o maior e o mais bem estruturado hospital da rede pública estadual de saúde e ser até referência em alguns serviços para as regiões Norte e Nordeste, o HGF vive problemas, recorrentemente, de abastecimento de insumos e disponibilidade de pessoal que acaba comprometendo a produtividade e a regularidade dos serviços da instituição.
Em muitos outros momentos, o Hospital convive também com o aumento da demanda por falta de recursos financeiros para o financiamento adequado de toda a rede estadual de saúde e pelo funcionamento limitado e/ou a baixa resolutividade do restante dos serviços da rede estadual de saúde, em especial no Interior do Estado, o que acaba aumentando a procura pelos serviços do HGF e, muito frequentemente, superlotando a unidade.
Os fatos noticiados pela imprensa na última semana, recheados de relatos de profissionais que trabalham no HGF, como também o que está acontecendo no restante da rede estadual, indicam que o problema que a unidade vive nesse momento é tanto de oferta como de demanda! No caso, o problema da oferta fica comprovado pela redução e/ou suspensão de cirurgias eletivas e outros procedimentos por escassez de material e recursos humanos para manter, com regularidade e previsibilidade, os serviços do hospital.
Mas, pelo menos em parte, a superlotação e ocupação dos “leitos de corredor” são consequência de um aumento da demanda no Hospital pela precariedade, limitação e subfinanciamento do restante da rede de saúde do Governo do Estado do Ceará. Existem muito exemplos práticos dessa crise que a saúde pública do Ceará vive no momento! O Hospital do Coração de Messejana vive uma grande restrição de atendimentos, superlotação e escassez de material e pessoal para dar conta da demanda. O Hospital Mental de Messejana cortou, recentemente, atendimentos ambulatoriais que eram historicamente realizados na Unidade. Os Hospitais Regionais de Quixeramobim e Limoeiro do Norte, mesmo após tanto tempo de inauguração, continuam com as portas das emergências fechadas e com muitas alas e serviços sem funcionar ainda.
O tão prometido Hospital Universitário da UECE está com obras praticamente paradas e sem prazo para iniciar o seu funcionamento. Muitas policlínicas de exames e consultas no Interior do Estado vivem uma crise de financiamento e redução da sua produtividade. Para completar, os hospitais de pequeno e médio portes do Interior estão sucateados, sem o devido apoio financeiro por parte do Governo e com uma capacidade de resposta muito limitada.
Além disso, os municípios cearenses tem reclamado falta de apoio financeiro do Governo para manter os seus respectivos serviços de atenção primária e secundária com qualidade. Tudo isso sem falar da tão badalada promessa do Governo do Estado de acabar com as filas de cirurgias eletivas no primeiro ano do governo. Já estamos com mais de 18 meses e o programa não decolou. Em muitas especialidades, as filas são até maiores do que eram num passado recente! Fica claro que a crise que o HGF vive a esse momento não é, especificamente, da instituição mas é, sim, uma crise mais ampla e conjuntural.
Tem faltado prioridades, recursos financeiros e humanos suficientes e capacidade de gestão na saúde pública do Estado do Ceará. O Governo do Estado ainda não apresentou um projeto concreto, com garantias de financiamento e sustentabilidade, para manter a rede que dispomos atualmente e, muito menos, para eventualmente expandir a atenção à saúde no Estado. Essa crise vivida pelo HGF é, infelizmente, apenas a “ponta do iceberg”.