O Ceará ganhou destaque internacional, em um passado recente, ao conseguir reverter com sucesso o drama desumano de conviver com taxas de mortalidade infantil que envergonhavam o nosso Estado, maltratando a já muito sofrida vida do nosso povo cearense!
Chegamos a ter, em meados da década de 80, uma média de mais de 150 crianças mortas antes do primeiro ano de vida para cada 1000 que nasciam vivas no mesmo ano. Graças a avanços na atenção primária, em especial a implantação do Programa Agentes Comunitários de Saúde (PACS), essa realidade mudou progressivamente e o Ceará se transformou em uma referencia internacional na reversão dessa realidade que, àquela época, era um grande desafio de saúde pública global.
O PACS foi a base para toda uma nova estratégia de atenção primária à saúde no País que teve como bússola a nossa experiência cearense. Aqui, o PACS não só preveniu diretamente as mortes de crianças antes do primeiro ano de vida por desidratação, como também qualificou, com o tempo, o pré-natal e as práticas de assistência ao parto e de atenção à saúde infantil. Pois bem, emerge agora uma nova preocupação.
Ao longo de 2022 e 2023, a mortalidade infantil tem números crescentes, tanto em números absolutos, como a própria Taxa de Mortalidade Infantil-TMI que é o número de crianças mortas antes de um ano de vida frente ao número de crianças nascidas vivas x 1000). Repito: a mortalidade infantil está aumentando no nosso Estado do Ceará. Em 2021 havíamos tido 1287 óbitos de crianças antes de 1 ano de vida. Em 2022, o número subiu para 1317 e aumentou 1325 em 2023. Nesse último ano, a TMI aqui no Ceará voltou ao patamar de 11,9 óbitos para cada grupo de 1000 crianças nascidas vivas.
Há muitas possíveis explicações para isso, como os efeitos sociais e econômicos na saúde populacional, por causa da pandemia do COVID 19. De qualquer maneira, independente das explicações e interpretações, as estatísticas são reais e concretas e precisam estimular uma olhar cuidadoso e prioritário do Governo do Ceará quanto ao acompanhamento da TMI no nosso Estado.
Definitivamente, não pode se subestimar o assunto! Esse é um dos indicadores sociais mais importantes para se avaliar a qualidade de vida e o desenvolvimento humano das diferentes regiões do planeta, influenciado por diversos fatores sociais e ambientais, mas muito relacionado diretamente à assistência à saúde reprodutiva da mulher e à saúde infantil.
É preciso o Governo do Estado aprofundar as análises e compreensão sobre o que está acontecendo, monitorando com muita atenção os indicadores de saúde materno infantil e, de qualquer maneira, priorizar a qualificação do processo de pré-natal, do acesso à assistência humanizada e segura ao parto e, muito especialmente, descentralizar para o Interior do Estado uma assistência neonatal de mais qualidade!
O Ceará não pode dar passos para trás também no enfrentamento à mortalidade infantil. É preciso reagir!