Radar do Ceará

Fortaleza já teve castelo erguido como prova de amor em plena Avenida Santos Dumont

Escrito por Diego Barbosa.

Construído em 1921 no antigo bairro do Outeiro, atual Aldeota, o Castelo do Plácido é a prova viva de que Fortaleza já sediou uma estrutura desse porte. O prédio ficava na Avenida Santos Dumont e até hoje é considerado uma das pérolas da arquitetura cearense, sobretudo devido ao aspecto afetivo ligado à história dele.

Trata-se de um conto de amor. Foi erguido como presente de casamento do comerciante Plácido de Carvalho, que desposara a italiana Pierina Rossi. “Era uma imensa mansão inspirada em um palácio veneziano. Chegou a ser considerada, à época, uma das mais requintadas obras arquitetônicas então construídas no Brasil”.

Quem conta é o jornalista e escritor Eliézer Rodrigues, autor do livro “Castelo do Plácido – Apogeu e Destruição 50 anos depois”. A obra será lançada neste sábado (24), às 11h, no Passeio Público, e deve transitar pelos detalhes do casarão, cujo projeto e construção são atribuídos ao engenheiro eletricista e artista plástico João Sabóia Barbosa.

Tudo aconteceu na década de 1920 onde hoje funciona a Central de Artesanato (CeArt), na Praça Luiza Távora. Plácido de Carvalho, apesar de ter atendido ao desejo da amada e visto a edificação resplandecer sob o sol alencarino, não soube do fato que ocorreria 54 anos depois: a destruição completa do imóvel em 13 de fevereiro de 1974.

“O livro, assim, chega como mais um alerta para as autoridades responsáveis pelo assunto. Que a derrubada do Castelo seja mais um exemplo forte de que é preciso ação na defesa do patrimônio”, conclama Eliézer.

POR QUE O CASTELO CHEGOU AO FIM

Desde a atuação como repórter e editor de cultura e arte em diferentes periódicos, o jornalista tem interesse por assuntos do patrimônio histórico. Não à toa, mergulhar nas minúcias do Castelo do Plácido pareceu a saída perfeita não apenas para Eliézer radiografar a estrutura de concreto, mas sobretudo a Fortaleza antiga. Livros, entrevistas e jornais serviram como base.

 

Legenda: Construção aconteceu na década de 1920 onde hoje funciona a Central de Artesanato (CeArt), na Praça Luiza Távora
Foto: Acervo Digital Fortaleza

 

O processo rendeu surpresas. “O que me surpreende é que, quando o Grupo Romcy comprou o terreno e derrubou o Castelo para construir um supermercado, ninguém se interessou em preservar a edificação, especialmente os órgãos oficiais destinados a aplicar metas preservacionistas”, observa.

Nem mesmo intelectuais e a imprensa da época se mobilizaram contra, fatos que ressurgem para o jornalista como alerta frente à nossa indiferença ao que de mais precioso existe nas cidades: construções que contam histórias e dizem muito do tempo de outrora e de agora.

 

Legenda: Cinquenta anos após a derrubada do prédio, livro retoma a história da estrutura e da Fortaleza antiga

 

“É necessária a conservação e a proteção de bens históricos”, enfatiza o autor, que também mostra na publicação a atuação de Plácido de Carvalho no mercado de Fortaleza por meio de outras construções edificadas por ele na Capital. A Praça do Ferreira, por exemplo, comportou duas: o Excelsior Hotel e os cines Majestic e Moderno, também já destruídos.

OUTRAS HERANÇAS

O Excelsior foi o primeiro arranha-céu da cidade, inspirado em um edifício de Milão, na Itália. Feito de alvenaria, tijolos e trilhos de trem, teve toda a decoração interna aos cuidados da já citada Pierina Rossi, com materiais importados da Europa. Pompa para todo lado: ao todo possuía sete andares e as paredes chegavam a ter 80 cm de largura.

Os cines Majestic e Moderno, por sua vez, espelham semelhante arrojo. O primeiro, cujo nome oficial era Cine Theatro Majestic Palace, foi inaugurado em julho de 1917 e era considerado o mais luxuoso salão da época. O fim trágico ocorreu devido a um incêndio.

 

Legenda: O Hotel Excelsior foi o primeiro arranha-céu de Fortaleza, inspirado em um edifício de Milão, na Itália
Foto: Lucas de Menezes

 

O segundo foi inaugurado em setembro de 1921. Durante oito anos, apresentou filmes mudos animados por um piano perto do palco. As sessões eram noturnas e ele foi vendido para o industrial Edson Queiroz

Lugares simbólicos: narram a trajetória de pessoas e de uma cidade sem morrer no tempo. Ganham os dias pelo olhar de quem entende ser a História uma escrita também do hoje.

 

Serviço
Lançamento do livro  “Castelo do Plácido – Apogeu e Destruição 50 anos depois”, de Eliézer Rodrigues
Neste sábado (24), às 11h, no Passeio Público (Praça dos Mártires, Centro)

Texto original disponível em:
https://diariodonordeste.verdesmares.com.br/verso/fortaleza-ja-teve-castelo-erguido-como-prova-de-amor-em-plena-avenida-santos-dumont-1.3480272

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